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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Cinco

Fecho os olhos e conto. 1, 2, 3, 4, 5. Cinco. Sempre gostei deste número. Abro os olhos lentamente e tudo permanece igual. Fecho-os, novamente, e conto. 1, 2, 3, 4, 5. Cinco. Respiro. Abro. Faço isso mais algumas vezes para tentar me convencer de que tudo vai sumir e voltar a ficar como estava. Respiro fundo e abro os olhos. Todos ainda olham para mim. Com a mesma cara de dó de sempre. "Não sintam dó de mim!", eu queria gritar. Mas, tadinhos, não conseguiam evitar. O sensacionalismo estava neles da mesma maneira que permanece em mim. Pois, quando me olhei no espelho esta manhã, senti dó de mim mesma.
O mar de pessoas de preto começou a andar e eu já sabia que eu precisava acompanhá-los, por mais que não quisesse. A dor ainda assola meu peito e deixa a sensação de vazio.
Que é como a vida se tornou agora. Vazia.
Uma lágrima escorre do meu olho esquerdo.
"Sempre que uma lágrima cai do seu olho esquerdo, querida, é tristeza. Nunca deixe que alguém lhe arrance esta lágrima".
Mas, você mesma está me arrancando esta lágrima. Como pode? Com você, a regra é inválida?
Mais pessoas me olham e com mais cara de dó do que nunca. Gostaria de gritar. Sair correndo dali. Mas, seria um comportamento tão inapropriado quanto não ter chorado até o momento no velório de sua própria mãe.
Porém, eles não sentem metade da dor que sinto, mãe. Nem querem sentir. Se eu pudesse escolher, não sentiria também. É uma dor horrível.
"Dores vem para nos provar do que somos capazes. Deus não dá mais do que podemos suportar"
Eu não suportava aquilo. Ninguém mais suportava.
Encaminhei-me ao buraco onde fora depositada. Joguei a rosa que se encontrava em minha mão.
E este foi nosso adeus.
1, 2, 3, 4, 5. Cinco. Respirei fundo.
Mais uma lágrima caiu.
Este era o fim.