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sábado, 30 de dezembro de 2017

Sempre tentei fazer os outros felizes,
menos a mim.
Quando eu percebi o quão mal aquilo me fazia
e passei a fazer o que me satisfazia,
fui chamada de egoísta.
E eu realmente me senti daquele jeito.
Mas, eu não tinha certeza se era
porque eu era egoísta
ou
se era
porque eles tinham me feito pensar daquela maneira.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

As palavras

Eu sinto a necessidade de escrever. Tal como a sinto de respirar.
O que seria de mim sem as palavras?
Com elas, divago.
Com elas, descrevo.
Com elas, confesso.
Com elas, fujo.
Com elas, enfrento.
Meus medos, meus traumas, meus sentimentos.
Enfrento-me.
Encontro-me.
Elas dão-me o conforto em momentos tristes,
alegres,
em momentos que não sei definir o que são.
Amo-as tanto,
que questiono-me como alguém pode viver sem elas.
Como alguém também deve questionar-se como vivo com elas.
Eu não vivo com elas, vivo por elas.
Elas são meu refúgio.
E a elas, finalmente, me entrego.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

enquanto tu não vem,
carrego a minha dor.
enquanto eles não vêem,
espanto meu rancor.

enquanto espero,
escrevo meus pensamentos.
"algo deverá recompensar"
é o que me digo em todos os momentos

enquanto essa recompensa não chega
sigo adiante
com essa ideia brega
de permanecer confiante

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Lábios

Beijo-te e o gosto de café inunda minha língua.
O gosto da bebida que estou aprendendo a gostar ainda causa-me estranhamento.
Mas, em tua boca, torna-se algo bom.

Beijo-te e sinto o gosto de cerveja.
Da bebida que tanto recuso.
Mas, em teus lábios, ela não é amarga, é doce.
E recuso-me a parar de beijar-te.

Quando meus lábios não estão de encontro com os teus, sinto essa necessidade.
E se não a sinto, vejo meus lábios abertos e prontos para falar sobre ti.
De ti. Para ti.

Controlo-me ao notar que já falei.
Descontrolo-me ao perceber que quero falar cada vez mais.
Peço desculpas, digo que passarei um tempo sem falar.
Porém, em menos de dois minutos, já estou falando de ti novamente.

Penso em você.
Em teu beijo. Teu abraço.
Penso nas palavras que profere para mim.
Lembro da noite em que disse que era bom sentir que podia gostar de alguém.

Lembro de sentir o mesmo.
Mas, meus lábios se fecharem para não tornarem-se um eco de suas palavras.
E abrirem-se novamente para receber os teus.

Meus lábios encontram-se dependentes dos teus
E em seus lábios encontro uma segurança que não tem fim
Estou me apaixonando, querido
E espero que permaneçamos assim

quarta-feira, 12 de abril de 2017

A Água

A primeira vez que a notei, ela estava aos meus pés.
Eu a chutava e brincava com ela - não parecia sério, e nem era.
Ela refrescava-me em dias quentes.
Mas, à noite, fazia tudo ficar mais frio.
Porém, são só nos pés, eu dizia.
O incômodo era pouco.
Suportável.
Dali a pouco, ela secava. Tornava-se uma poça rasa.
Evaporava.
Voltava.
Sempre no mesmo ponto.
Sempre do mesmo jeito.

A segunda vez que a notei, ela estava em meus joelhos.
Eu tremia de frio à noite.
Não conseguia mais dormir.
O incômodo aumentou.
Mas, ainda não havia atingido minhas roupas.
O dano não passava de algo passageiro.
Ela havia de secar.
Diminuía, porém, não mais secava.
Permanecia.
Insistia.
Lembrava-me que estava ali.
Era impossível esquecer.
Era impossível deixar para lá.

A terceira vez, ela já estava em meu pescoço.
Em suas ondas, algumas gotas entravam em minha boca.
Sufocavam-me.
Deixavam-me sem ar.
Não conseguia mais respirar.
Não havia mais como tentar.
Assustei-me.
Chorei.
Não adiantou.
Piorou.
As ondas tornavam-se mais fortes e passei a temê-las cada vez mais.
Não havia mais contra o que lutar.

Levou semanas e eu estava submersa.
Para alguém que não sabia nadar, cheguei muito longe.
Ainda não sei nadar e afogo-me.
Procuro saídas.
Encontrei algumas.
Maneiras,
Modos,
Jeitos
De fugir.
Mas, ela volta.
Mostra todo seu poder.
Que eu não queria que tivesse.
Ao qual eu não queria me render.
A água afoga-me e deixa-me ali.
Ardendo na agonia de não conseguir respirar
E muito menos morrer

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A dita paz

O sol que entrava na pequena fresta da janela.
O barulho do gotejar da torneira meio aberta.
A sala vazia que insistia em me lembrar
da partida
da tua ida
do fim de qualquer coisa ocorrida.
O fato que nos trouxe este fardo.
A situação que nos impôs esse cargo
que não aceitamos
para o qual nem sequer fomos treinados
Tu não tinhas maturidade
eu não tinha mentalidade
nem sabia quem eu era
só sabia que a ti era ligada
Por sangue, sobrenome
A ti estava atrelada
e continuo
nesse mundo em que tu sempre volta
por mais que eu queira que tu vá
Tu fez tua escolha
e quem sou eu para te mudar?
Se nem Deus quis tentar
quem sou eu para lhe falar?
Que o que fazes é errado
que consumiu o seu pecado
e que a culpa é toda tua
por sempre falhar
sem ao menos tentar.
A dor não me afeta mais.
Se quiseres viver com tais
falsidades
pseudo felicidades,
Vai-te, deixe-me em paz
e deixe-me para trás
como tu sempre faz

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Mais tempo

Era setembro. Feriado. Minha vida acontecia normalmente, enquanto a sua se esvaía por completo. Lembro-me do telefonema. De observar os choros ao meu redor e não entender nada.
Mesmo assim, sentia o olhar de pena das pessoas sob mim.
E eu não queria pena.
Queria tempo.
Queria muito mais tempo do que aqueles curtos seis anos que me foram concedidos.
Queria mais tempo para observar-te dormindo no sofá daquele quarto após o almoço. Mais tempo para buscarmos um refrigerante para o café da tarde em uma padaria qualquer. Mais tempo para me esconder no seu guarda-roupa. Mais tempo conversando contigo. Mais tempo para ouvir suas piadas - e mais maturidade para apreciá-las.
Sou egoísta quando desejo que o tempo volte para que eu possa aproveitar da maneira correta aqueles anos.
Entretanto, o tempo não liga para minha presunção. E no lugar desse sentimento, vem-se uma dor que assola meu peito como nenhuma outra dor fez ou fará.
Lembro-me da viagem até o momento que seria o último e que pareceu durar um ano - e poderia realmente, com a incrível quantidade de desventuras ocorridas. Cheguei de madrugada e tu estava-me esperando como sempre fazia. Como fez quando nasci, como fez durante todos aqueles seis anos.
Porém, sem qualquer resquício de vitalidade em ti. A dor se intensificou. As lágrimas escaparam sem que eu ao menos percebesse. E pela primeira vez, senti verdadeiramente sua falta. Como sinto diariamente desde aquele fatídico dia.
Queria mais tempo para criar novas memórias. Mas, como sei que aquelas foram mais do que suficientes.
Porque tu és e sempre foi um presente imenso na vida de todos à sua volta.
Agora, quando a dor me aperta, lembro e agradeço o quão sortuda fui por tê-lo em minha vida. Por apenas seis anos, que me fizeram imensamente mais feliz do que aqueles que nem sabem teu nome.
Carrego o orgulho de levá-lo em minha história e em pequenas partes de mim - minhas orelhas, meu sangue, meu sobrenome.
Como continuo humana, ainda desejo aquele tempo de volta, mas desejo mais ainda que enquanto me observas, de onde quer que esteja, sinta orgulho de mim, como o sinto de ti.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

O céu está chorando

Estava caindo um temporal. E mesmo assim, ela estava lá fora, na chuva, parecendo que queria absorver cada gota que caía do céu.
"Saia daí! Você vai ficar doente!" gritei. Mas pareceu que ela não tinha me ouvido.
"Venha pra dentro!" gritei mais uma vez. Então, ela se sentou no chão.
O que ela estava fazendo? Ela não sabia que poderia ficar realmente doente se continuasse ali? 
Saí correndo e parei na frente dela. Seu olhar não se ergueu para me olhar, pelo contrário, ela continuou a olhar para frente, como se eu não estivesse ali, como se pudesse olhar através de mim. 
"Não é engraçado?" ela falou "Como as gotas da chuva parecem lágrimas?".
Não sabia o que responder. Abaixei e fiquei bem na frente dela. E ela estava sorrindo. E chorando. Apesar da chuva dava para ver que eram lágrimas.
"Sim, é" eu falei.
"Quando eu era criança, sempre que chovia, minha mãe me falava que o céu estava chorando. Que a saudade de todos de lá tinha transbordado" ela sorriu um pouco mais "E agora, mais do que nunca, eu acredito nisso".
Ela riu, se levantou e me puxou. Levantei e continuei olhando para ela. "Vamos", ela disse, "você vai ficar doente" e riu mais uma vez.
Ela saiu andando na minha frente e eu fiquei onde estava. Ela nunca havia me contado nada do passado, essa tinha sido a primeira vez. E eu pude sentir a tristeza dela e toda a dor dela saindo através daquelas lágrimas, daquelas palavras. E mesmo assim, ela riu.
Saí andando atrás dela para me proteger da chuva e a partir daquele dia, eu tenho certeza de que a chuva é o choro dos céus e que aquela menina já chorou muito com eles.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Uma cordialidade para os vivos

Lembro-me do sol queimando minha nuca e do aparente alívio que senti quando alcancei a sombra. Um azul intenso - que resultava do reflexo do teto - atingiu-me e uma tristeza enorme me tomou. Agora, eu tinha 12 anos e ninguém me pouparia de viver aquele momento.
Lágrimas inundaram meus olhos e toda minha visão tornou-se um borrão. Conseguia distinguir apenas algumas coisas, como as pessoas desconhecidas que choravam uma dor que não as pertencia. Que, naquele momento, era a dor de somente três figuras ao redor dela.
Uma mulher, chorando muito e afagando-lhe os cabelos. Um homem, parecido com a mulher, sério, porém triste. E outro homem que não aparentava esboçar qualquer sentimento.
As músicas começaram a sair dos lábios anônimos. Pois, já não existiam mais rostos - somente uma infinidade de pessoas que a rodeavam. E era chegada a hora.
Sua expressão demonstrava um descanso sereno e as músicas me arrepiavam. Por mais que existissem diversos vivos ali, tudo que cercava-me era a morte. Seu corpo não tinha mais vida e ela não estava mais ali. Tudo isso era uma cordialidade para os vivos.
Tamparam-lhe e a moveram. Começava a caminhada para sua última, e definitiva, morada. A dor me assolou mais uma vez e meu coração tropeçou. Nas canções que pairavam no ar e não eram as que ela proferia. Nas mãos da mulher que, agora, afagavam-me os braços e não mais seus cabelos. No jovem, que no coração sentia a dor, e a acompanhava de perto. Na menina que chorava descontroladamente e teve que ir embora. E na multidão que nos seguia.
Ninguém ali a conhecia. E não fazia diferença, pois ela não reconhecia ninguém. Finalmente, estava juntando-se a indivíduos conhecidos.
Uma cerimônia para os vivos, pensei. Para despedir-se de quem já havia partido.
Mais lágrimas vieram e tornava-se cada vez mais difícil enxergar algo. Até, finalmente, chegarmos. Até abrirem-lhe a porta, tirar quem antes estivera lá, e a quem ela mal podia esperar para juntar-se.
Colocaram-la em sua nova casa e fecharam-lhe. Como se fosse uma cortesia. Como se fosse uma despedida.
E era, lembrei.
A dor dividiu espaço com o alívio. Era melhor assim, eles me diziam, ela está onde deveria estar.
Queria sussurrar um "obrigada" por tudo que tinha me feito sem ao menos saber. E um "desculpa" por todas as vezes que fui egoísta e não me equivalei a ela.
Ela poderia não se lembrar de mim em vida, mas realmente acredito que sua memória tenha voltada e um resquício de recordação passe em sua mente.
Pois, passa na minha, diariamente. Porque me lembro dela e sempre irei me lembrar.