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terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Mais tempo

Era setembro. Feriado. Minha vida acontecia normalmente, enquanto a sua se esvaía por completo. Lembro-me do telefonema. De observar os choros ao meu redor e não entender nada.
Mesmo assim, sentia o olhar de pena das pessoas sob mim.
E eu não queria pena.
Queria tempo.
Queria muito mais tempo do que aqueles curtos seis anos que me foram concedidos.
Queria mais tempo para observar-te dormindo no sofá daquele quarto após o almoço. Mais tempo para buscarmos um refrigerante para o café da tarde em uma padaria qualquer. Mais tempo para me esconder no seu guarda-roupa. Mais tempo conversando contigo. Mais tempo para ouvir suas piadas - e mais maturidade para apreciá-las.
Sou egoísta quando desejo que o tempo volte para que eu possa aproveitar da maneira correta aqueles anos.
Entretanto, o tempo não liga para minha presunção. E no lugar desse sentimento, vem-se uma dor que assola meu peito como nenhuma outra dor fez ou fará.
Lembro-me da viagem até o momento que seria o último e que pareceu durar um ano - e poderia realmente, com a incrível quantidade de desventuras ocorridas. Cheguei de madrugada e tu estava-me esperando como sempre fazia. Como fez quando nasci, como fez durante todos aqueles seis anos.
Porém, sem qualquer resquício de vitalidade em ti. A dor se intensificou. As lágrimas escaparam sem que eu ao menos percebesse. E pela primeira vez, senti verdadeiramente sua falta. Como sinto diariamente desde aquele fatídico dia.
Queria mais tempo para criar novas memórias. Mas, como sei que aquelas foram mais do que suficientes.
Porque tu és e sempre foi um presente imenso na vida de todos à sua volta.
Agora, quando a dor me aperta, lembro e agradeço o quão sortuda fui por tê-lo em minha vida. Por apenas seis anos, que me fizeram imensamente mais feliz do que aqueles que nem sabem teu nome.
Carrego o orgulho de levá-lo em minha história e em pequenas partes de mim - minhas orelhas, meu sangue, meu sobrenome.
Como continuo humana, ainda desejo aquele tempo de volta, mas desejo mais ainda que enquanto me observas, de onde quer que esteja, sinta orgulho de mim, como o sinto de ti.

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